A VOZ DA MEMÓRIA
Revista Voz Amiga | Volume 32 | Nº 1 | Ano 2022
“Eu sinto sempre mais o peso dos noventa anos, que espero chegar a completar no mês de março próximo. Sou quase surdo, com pouca memória, que me faz esquecer muitas coisas; caminho com o bastão, mas consigo ainda fazer tudo sozinho, dando graças a Deus pela saúde que ainda me resta. […] A igreja de Jesus Sacerdote é o meu sonho! Mas, os trabalhos vão lentos, dada a escassez de recursos. Eu confio na Providência de Deus e no Espírito Santo, que sugerirá aos futuros responsáveis o modo melhor para utilizar tudo que for preparado.” (Padre Pio Milpacher, revista Voz Amiga, fevereiro/2013)
Lembramos com admiração e gratidão a vida do nosso querido padre Pio Milpacher. Filho de Fedele Milpacher e Teresa Fedele, nasceu no dia 27 de março de 1923 (98 anos), na cidade de Telve, aldeia das montanhas de Trento na Itália do norte, seu sobrenome Milpacher é de origem alemã, de família pobre, perdeu o pai muito cedo, mas encontrou na sua mãe e irmã o apoio necessário para seguir o seu chamado vocacional. Ingressou na congregação de padre Mário Venturini que acolhia vocações pobres, que não podiam pagar pelo curso seminarístico.
Fez a sua profissão religiosa na Congregação de Jesus Sacerdote no dia 15 de setembro de 1942 (79 anos) e foi ordenado padre no dia 27 de junho de 1948 (73 anos). Depois de um período de colaboração e missão na Itália, passando por Loreto, Trento, Intra e Roma, fez doutorado em filosofia política, foi enviado junto com o Servo de Deus padre André Bortolameotti, ao Brasil chegando no dia 20 de dezembro de 1967, onde em São Paulo exerceram a sua missão na catedral e na Igreja da Boa Morte, logo depois foi para o Rio de Janeiro, exercendo um trabalho evangelizador na favela de Santa Marta.
Ao final da vida dedicou-se exclusivamente a oração, sendo exemplo de vida contemplativa, não cessando de rezar: na capela, no quarto, no corredor até à mesa. Porém, sempre foi um modelo de vida ativa: cheio de projetos pastorais e sociais, sempre na rua com sua típica mobilete, e mais tarde, com o seu carro simples… Não deixava descansar seus numerosos colaboradores na paróquia, insistia com os Responsáveis Civis pelas suas iniciativas, em favor dos pobres da favela ou das suas promoções paroquiais, incentivando a oração pelas vocações.
Em Marília, teve que completar a Igreja de São Sebastião com as necessárias obras de acabamento, construiu o salão paroquial, o Centro Pastoral conseguindo comprar e liberar o terreno com muitos esforços.
Em São Judas construiu a primeira capela e o salão comunitário. Desafiando a crise econômica e a incredulidade geral, projetou e conseguiu realizar o grande e admirado Santuário de São Judas, que se tornou lugar de devoção pelos tantos devotos da cidade e das regiões limítrofes e, também, ponto turístico da cidade de Marília. Completou as obras na paróquia construindo a Igreja de São Francisco com as salas anexas pelas atividades pastorais, e deu início ao grande salão. Assim como incentivou e participou ativamente na criação do Centro Comunitário São Judas Tadeu.
Passou em Osasco, como pároco da Paróquia Senhor do Bonfim e superior da casa religiosa, permaneceu na cidade de 1995 até 2013, sua primeira preocupação foi dar novo impulso e vitalidade aquela comunidade, então, bastante abandonada, mas não faltaram trabalhos para fazer. Em seu impulso evangelizador, procurou visitar todas as famílias da região, rezando missas nas casas, restaurou a igreja paroquial, construiu logo as salas de catequese, reconstruiu a antiga casa paroquial realizando um sobrado com uma sala cômoda de reuniões, e alguns quartos de acolhida.
Custou-lhe muito encontrar um terreno no centro da cidade, para um lugar de culto e um centro social. Conseguiu, finalmente, em acordo com a Prefeitura e realizou o Centro Social de Jesus Sacerdote, com uma capela significativa e várias salas de atendimento para os jovens em situação de vulnerabilidade.
Em Osasco colaborou no curso de teologia para leigos, ajudou na direção espiritual dos seminários, escreveu semanalmente para o Jornal Diário da Região, e sem dúvida ajudou inúmeras famílias com o seu ministério, principalmente na administração dos sacramentos.
Não poderíamos deixar de lado a produção literária de Pe. Pio. Homem de ideais e projetos ambiciosos, nos deixa vários livros de sua autoria: “Vale a pena ser Padre”, “Realizar-se no sacerdócio ou no celibato”, “O segredo da Vida Feliz” e “O Governo dos Povos”. Este último permanece seu best-seller, fruto das noites de prolongadas meditações na favela do Rio, e do seu sofrimento pela falta de liberdade, que a ditadura militar tinha causado no Brasil.
Este último livro e todo o seu trabalho social e político em favor dos pobres lhe propiciou o reconhecimento de cidadão honorário seja de Marília, seja de Osasco.
A ele nossa missão deve, sobretudo, sua invencível perseverança nas dificuldades do começo. Se não tivesse resistido, dificilmente nossa missão teria continuado no Brasil. Foi para nós como uma árvore fincada nesta terra de santa cruz: tronco robusto, e sobretudo, profundas raízes para resistir às investidas do vendaval.
Agradecemos a Deus a vocação deste grande padre! Padre Pio Milpacher, CJS faleceu aos 98 anos, dia 05 de novembro de 2021, em consequência de uma insuficiência respiratória, decorrente de uma pneumonia bacteriana, na Santa Casa de Marília, por volta das 18h50 e foi sepultado no Santuário São Judas Tadeu em Marília.
Deixou frutos preciosos seja na Itália, seja na Diocese de Marília, seja na Diocese de Osasco e principalmente para a nossa Congregação! Padre Pio Milpacher foi exemplo vivo de santidade! De uma vida consumida até o fim pela santificação dos padres, pelos quais consagrou a sua vida!
Terminamos com um pensamento de padre Pio em um dos seus livros: “O segredo da vida feliz é descoberto pelas pessoas que conseguem progredir na vida usando bem o tempo e as capacidades recebidas para fazer o que é bom, justo e útil.”
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Por Diácono Pedro Paulo Queiroz, CJS.
Congregação de Jesus Sacerdote
Fonte: Revista Voz Amiga